
Diagn Tratamento. 2012;17(1):9-13.
Revisão narrativa da literatura
Fatores de risco envolvidos no desenvolvimento
da psicopatia: uma atualização
Décio Gilberto Natrielli Filho
I
, Mailu Enokibara
II
, Natália Szczerbacki
II
, Décio Gilberto Natrielli
III
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Comitê Multidisciplinar de Psicologia Médica da Associação Paulista de Medicina
INTRODUÇÃO
Conceitos gerais
O conceito de transtorno de personalidade (TP) ainda passa
por reformulações nos manuais de referência para o diagnóstico
em psiquiatria. Os termos “psicopatia” e “psicopatas” serão uti-
lizados neste trabalho referindo-se ao TP antissocial por serem
termos equivalentes na literatura.
1
O desenvolvimento da personalidade é por si só um assunto
complexo que envolve variáveis ambientais aleatórias, fatores
perinatais, genéticos, individuais (incluindo nível intelectual)
e familiares. Assim como a denição de personalidade e seus
distúrbios, a etiologia da psicopatia ainda não está devidamente
esclarecida.
2-5
O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) caracteri-
za-se por um padrão persistente e inexível de comportamentos
disfuncionais que comprometem o funcionamento e adaptação
do indivíduo, causam sofrimento subjetivo e atingem aqueles
que com ele convivem. A literatura psiquiátrica atual também
utiliza o termo “psicopatia” para se referir aos casos de TPAS,
sendo que, para o futuro Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders – 5
th
[Edition (DSM-V), existe a proposta de
estreitar esta terminologia.
1
Entretanto, até o momento, atri-
bui-se à terminologia psicopatia/psicopatas critérios mais am-
plos de diagnóstico quando comparados aos critérios do atual
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – 4
th
Edition – Text Rev. (DSM-IV-TR).
6
A psicopatia é um transtorno de personalidade grave caracte-
rizado por anormalidades emocionais e comportamentais. Para
Cleckley,
7
as características mais comuns dos psicopatas são: en-
canto supercial e boa inteligência; ausência de delírios e outros
sinais de alterações do pensamento; ausência de manifestações
“neuróticas”; irresponsabilidade; mentira e falta de sinceridade;
falta de remorso ou vergonha; comportamento antissocial sem
constrangimento aparente; senso crítico falho e deciência na
capacidade de aprender pela experiência; egocentrismo patoló-
gico e incapacidade de amar; pobreza geral de reações afetivas;
indiferença em relações interpessoais gerais; diculdade em se-
guir qualquer plano de vida. Esses indivíduos geralmente não
temem a punição e caracterizam um grupo de jovens com um
potencial grave para o padrão de comportamento violento.
8
Observa-se a presença desse transtorno em aproximada-
mente 15% a 20% de infratores criminosos e é um dos fato-
res consideráveis na recidiva de comportamento violento em
presidiários.
3,4,9
Alguns autores têm enfatizado o impacto biopsicossocial
sobre jovens que apresentam comportamento psicopático,
na tentativa de elucidar pontos críticos em que uma eventual
intervenção possa ser feita, levando em consideração aspec-
tos sociodemográcos.
10-13
Fatores de risco
Quanto ao conceito de “fator de risco”, ao se utilizar esta ter-
minologia, supõe-se a existência de variáveis populacionais e in-
dividuais, envolvendo o comportamento humano ou seus des-
vios (como negligência, abuso ou violência), que poderiam ser
modicadas ou observadas anteriormente ao desenvolvimento
da doença em questão. A possibilidade de prevenir doenças
mentais ainda é limitada devido às próprias diculdades con-
ceituais envolvendo os diagnósticos psiquiátricos e sua estabili-
dade ao longo dos anos. Para os transtornos de personalidade,
os estudos observam principalmente uma maior estabilidade
dos traços do que do diagnóstico em si ao longo do tempo. As
escalas utilizadas para mensurar os riscos de psicopatia podem
variar de acordo com o local de aplicação e do nível sociocul-
tural.
14
Também em relação ao TPAS, observam-se fatores am-
bientais nos estudos que poderiam sofrer inuência de ações
preventivas quando devidamente identicadas e abordadas.
Dentre eles, podemos destacar um ambiente familiar violento,
negligência parental, abuso emocional e físico, abuso de subs-
tâncias por parte dos pais, inuência de grupos escolares e da
comunidade.
15-17
I
Psiquiatra do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), Santa Casa de São Paulo. Professor de Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
II
Residente de Psiquiatria do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), Santa Casa de São Paulo.
III
Médico Psiquiatra, presidente do Comitê Multidisciplinar de Psicologia Médica da Associação Paulista de Medicina.
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